sábado, 25 de agosto de 2012

Edward Said: trabalho intelectual e crítica social



Lançamento:
"Edward Said: trabalho intelectual e crítica social"

organizado pelo ICArabe - www.icarabe.org.br




 O livro é um trabalho editorial organizado pelo Instituto da Cultura Árabe junto com a Editora Casa Amarela e traz a visão de vários intelectuais brasileiros da sociologia, da política, da geografia, do jornalismo e da literatura sobre a importância da obra do palestino Edward Said, morto em 2003, seja pela sua honestidade intelectual ou por sua luta incansável contra qualquer forma de opressão. A maior parte dos textos é resultado de uma homenagem feita ao intelectual ainda no ano de sua morte. Outra parte foi feita especialmente para o livro. O lançamento contará com a abertura do prof. Aziz Ab´Saber, presidente de honra do ICArabe, a apresentação musical de Carlinhos Antunes e a Orquestra Mundana.


 O livro, que tem Introdução de Emir Sader, Prefácio de Soraya Smaili e a capa de Gershon Knispel e de Gilberto Maringoni, conta com artigos de

Aziz Ab´Saber, Arlene Clemesha, Ali el-Khatib, Emir Sader, Francisco de Oliveira, Francisco Miraglia, Ivana Jinkings, Jacob Gorender, José Arbex Jr., Lejeune Mato Grosso, Lygia Osório, Mamede M. Jarouche, Marilena Chauí, Milton Hatoum, Mohamad Habib, Paulo Farah, Ricardo Antunes.
 O lançamento terá abertura do Professor Aziz Ab'Saber
E a apresentação de Carlinhos Antunes e Orquestra Mundana

Patrocínio : Avimed - Saúde, Casa de Saúde Santos, Instituto do Sono e Kaser Digitação e Processamento de Dados e Levespuma Colchões.

Apoios : Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Club Homs, Câmara do Comércio Árabe Brasileira, Depto Cultural do Esporte Clube Sírio, Instituto Jerusalém do Brasil, COPAL - Confederação Árabe Palestina do Brasil, FEARAB-SP- Federação de Entidades Árabe Brasileiras , Rede para Difusão da Cultura Árabe-brasileira Samba do Ventre.



Trabalho de Said ganha reflexão de intelectuais brasileiros
Por Arturo Hartmann





Em 2002, em depoimento para o documentário "Selves and others: a portrait of Edward Said", de Emmanuel Hamon, o intelectual palestino olhou para uma foto sua, em preto e branco, tirada 11 anos antes, em 1991, em que está em primeiro plano diante de um fundo escuro e um olhar penetrante para a lente. "Um senhor soturno, de olhar sério e idade incerta. Você vê que ainda não tenho os cabelos brancos". Said disse que na época da foto sabia que tinha leucemia, mas não tinha recebido qualquer tratamento. Completa: "uma foto sombria, com certa angústia e bastante incerteza. Um panorama severo de um intelectual da oposição".

Ser um intelectual de oposição foi a escolha que Said fez, pelos caminhos que seguiu em seu trabalho, até o final de sua vida. Para ele, o intelectual não devia legitimar ou aceitar qualquer forma de poder, mas sim provocar e desafiar consensos. E é esse retrato, de um intelectual inquieto com o absurdo da dominação do outro, que agora o Instituto da Cultura Árabe e a Editora Casa Amarela trazem para o público no livro "Edward Said: trabalho intelectual e crítica social". O livro traz artigos de Aziz Ab´Saber, Milton Hatoum, Francisco de Oliveira, Marilena Chauí, Ricardo Antunes, José Arbex Jr., Ali El-Khatib, Soraya Smaili, Lejeune Mato Grosso, Arlene Clemesha, Paulo Farah, Francisco Miraglia e Emir Sader.

O escritor Milton Hatoum - autor de "Relato de um certo Oriente" e "Dois Irmãos" -, para quem Said foi um dos grandes pensadores da segunda metade do século XX, diz que ele "traduziu para o ocidente uma complexidade do mundo árabe que sempre foi menosprezada. Como intelectual palestino e um dos grandes da segunda metade do século XX, divulgou a legitimidade de uma cultura escondida".

O mundo árabe do qual Hatoum fala foi uma das fontes de produção para Said. O palestino admitia que sempre teve que negociar entre as suas diferentes identidades e que o sentimento de exílio e de não pertencer sempre esteve presente, mesmo antes de conseguir articulá-lo.

Nasceu na Palestina em novembro de 1935, em uma terra ainda não independente e sob mandato britânico. Estudou grande parte de sua infância e adolescência no Egito também colonizado. Lá, em um país de maioria muçulmana, se sentia fora de lugar como parte de uma família de árabes cristãos. Pai e mãe eram palestinos, mas Wadie Said, o pai, tinha cidadania estadunidense, estendida aos filhos, e a mãe era descendente de libaneses cristãos.

Depois, quando foi para os Estados Unidos continuar os estudos, a sensação de se perceber em um país onde os árabes são o outro dá um outro caráter a seu exílio. Ele admite que em um primeiro momento "sentia vontade de desaparecer". No entanto, a partir de 1967, quando Israel ocupa os territórios palestinos, Said começa a consolidar o sentimento de revolta e, ali, se torna um ativista político.

Dez anos depois seria lançada a sua obra mais conhecida, "Orientalismo", em que detalha o processo da construção da imagem do árabe a partir do século XIX, com o propósito de dominação por parte das potências européias. Na obra, também mostra como esse orientalismo foi atualizado quando os Estados Unidos ocuparam o lugar de grande potência no mundo.

Para Hatoum, o palestino fez um análise consistente e "procurou analisar o movimento colonialista e imperialista, como foram traduzidos no discurso e na representação. Procurou demonstrar a visão que o mais forte tem do colonizado".

Já para Ricardo Antunes, sociólogo e professor da Unicamp, apesar de Said dirigir sua crítica para o modo como as potências olham para o mundo árabe e muçulmano, o corpo de conhecimento do intelectual é importante para ajudar a entender as atuais relações de disputa que se dão entre a potência Estados Unidos e outras nações periféricas subjugadas que buscam alternativas de resistência contra o pensamento hegemônico, não só econômico, mas também cultural. "Ele ajuda a pensar a complexidade nação e mundo, e na Palestina talvez essa seja a demonstração mais explosiva do problema. No Brasil, Argentina, México, Peru, Bolívia, e na Venezuela, que é a que está a frente nesse processo na América Latina, existem lutas que se dão num espaço amplo, com as identidades e as 'desidentidades', lutas no espaço do país, do continente e do mundo", afirma Antunes.

Para Said, o grande problema intelectual com o qual se debatia era se existia a possibilidade de conciliar humanismo e conhecimento, sem que fosse produzida qualquer tipo de dominação.

Mamede Jarouche, professor do departamento de Língua e Letra Árabes da USP, diz que Said construiu um instrumento teórico que é amplo e pode ser aplicado para entender mesmo as desigualdades que existem dentro do Brasil. "Embora na aparência o objeto seja o Oriente Médio, sua obra fornece instrumentos para analisar as relações entre centro e periferia, dá para pensar o Brasil com o mundo e o interior do próprio Brasil. Dá para analisar uma idéia que está em Euclides da Cunha, por exemplo, a diferença entre o interior e o litoral. As desigualdades e a tensão que existe entre dois pontos".

Said, através da força de seu trabalho e da consistência intelectual que manteve, aparece como um ícone da luta de resistência contra a dominação imperialista. "Sua influência continua. Ele é um autor traduzido em 30 idiomas. Fui para a Itália lançar um livro e a editora que editou meu livro é a mesma que edita o livro do Said. Ele é lido por alunos e professores, muitas pessoas na Europa conhecem sua obra", afirma Hatoum.

O palestino jamais se fixou em qualquer movimento político. Foi atacado pela extrema-direita sionista dos Estados Unidos, criticava duramente a política dos Estados Unidos e de Israel de privação da vida palestina, mas também era um dos mais ferozes críticos da conduta política da Autoridade Palestina e de Yasser Arafat.

"Ele se tornou um ícone de uma esquerda não dogmática. De uma esquerda independente e não-partidária. Ele abandonou a OLP. Tinha uma perspectiva solitária. Sua grandeza intelectual vinha solidão".

www.icarabe.org.br

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